roupa nova

30mar10

A partir de agora, posts novos (e antigos) em Natália Boaventura (:


“Joguei sobre você tantos medos, tanta coisa travada, […] tanta dor. Muitas coisas duras por dentro. Farpas. Uma pressa, uma urgência”.

Caio F. Abreu

Enquanto chovia, eu imaginei um diálogo inteiro que a gente ia ter. Pouco previ suas reações, já que você não é do tipo comum, mas chorei com a chuva só de imaginar. Imaginei uma dança em que voltaríamos à sintonia de outrora, ignorando o fato de você não espaçar muito bem. Imaginei um lugar bonito, a gente sentado conversando, rindo do que passou e fazendo planos pro que virá – ainda que pra direções opostas. Eu imaginei também que, quando a chuva parasse, ia levar a inquietação que tá aqui dentro junto com ela.

Mas tudo doeu, só de imaginar.ação


acasamente.

16out09

Talvez tenha sido por um acaso.

Bebi um gole a mais e a linha entre o ‘me conter’ e o ‘me deixar levar’, que era tênue, inexistiu. Talvez eu tivesse escolhido assistir a um pouco mais de TV do que entrar ali e te ver. E você poderia ter falado comigo e eu poderia ter te ignorado. Mas você, de modo peculiar, falou, se destacando entre os demais e, mesmo sem saber, eu já percebia que era diferente. Talvez eu só dissesse “não tenho celular” ao invés de arranjar um número no qual você pudesse me ligar – e era só como amigos, o tempo todo. Ou eu não tivesse bebido aquele gole e minha aceptividade fosse grande o suficiente pra ficar no mesmo lugar, por horas e horas. Talvez, eu nem gostasse daquela banda; ou gostasse tanto a ponto de não permitir que outrem me distraísse.

E talvez eu não tivesse te olhado e sentido algo diferente, que nada tinha a ver com o álcool em mim – tudo continuou rodando, mas estava lindo. Quem sabe eu não tivesse te arrastado comigo por todo aquele espaço, à procura de um banheiro. Ou sequer tivesse pulado de mãos dadas com você no meio da multidão no caminho – sem perceber. Talvez eu nem tivesse notado a sua cara de sapeca me olhando, e eu nem tivesse gostado. E talvez eu tivesse percebido o que estava prestes a acontecer e tivesse evitado – ei! eu percebi, e não evitei.

Talvez, ao perceber toda a diferenciedade presente em você, eu já tivesse desistido ali de todos os desafios – ou dissesse não, quando perguntada se eu te queria. Quem sabe eu não tivesse ido àquele bar, quem sabe não tivesse te abraçado naquele corredor, quem sabe eu nem teria te notado do meu lado o tempo todo.

Talvez eu me tivesse ido sem olhar pra trás – e fui – e não teria voltado jamais – mas voltei. Ou talvez eu não tivesse sensibilidade o suficiente pra perceber que, de fato, era diferente e, como tal, não seguia regras. Talvez eu tivesse preferido assistir àquele DVD, não ir ao show ou os iguais.

Talvez tenha sido o acaso.

Na segunda, um blogueiro indica um tema; na quinta, você confere o mesmo tema de perspectivas diferentes. Por acaso, essa é a trupe:

amanda oliveira . ana maria . andré pacheco . izabel pompermayer . lara marx . rafael glass . rodrigo casales . victor godoi

imagem daqui.


f[e]il

08out09
8d802711bea0309fb4917c7f88ef9f2bf0d49d9b_mEstou tentando ter fé, eu juro, mas na tentativa, me perco cada vez mais no ter.
Estou tentando acreditar que a vida vai ter família, amigos e amores, e que o dinheiro virá por consequência.
Tentando acreditar que o desespero é vão, a tristeza é vã, e que a solidão se vai.
Tentando enxergar esse amanhã novo, em que tudo vai dar certo, como dizem.
Estou tentando acreditar que, se eu for boa, coisas boas acontecerão.
Estou tentando ter fé, especialmente em mim.
Tá foda, mas eu estou tentando.

Na segunda, um blogueiro indica um tema; na quinta, você confere o mesmo tema de perspectivas diferentes. Tenha fé:

amanda oliveira . ana maria . andré pacheco . izabel pompermayer . lara marx . rafael glass . rodrigo casales . victor godoi


tumblr_kqt4rhsb0R1qzmbzro1_400Se você realmente me conhecesse, saberia que gosto de dormir deitada no emaranhado do teu peito, ouvindo o teu coração bater e brincando comigo mesma, na tentativa de adivinhar por quanto tempo ele permanecerá assim por mim. Saberia que beijo nos ombros é a melhor forma de me cumprimentar, a qualquer hora do dia. Saberia que adoro cheiro de canela, mas gosto ainda mais do sabor. Saberia, de certo, me decifrar em cada olhar, pois tenho um especial para cada indagação. Saberia até mesmo que eu não escolho as roupas de acordo o meu humor, e falo isso sempre só por gostar da tua expressão quando me ouve.

Se você realmente quisesse me conhecer, prestaria atenção nos meus gestos, que sempre querem dizer mais do que eu faço. Perceberia que adoro algodão doce e churros, especialmente em dias de semana, e açaí, ao final dela. Entenderia que, quando digo que gosto de surpresas, elas não precisam ser arduamente elaboradas e planejadas e que, como da primeira vez, um convite para um sorvete às quatro da tarde de uma segunda-feira já bastaria – ou um bombom, às quartas, que são naturalmente chatas. Saberia que, para mim, telefone não serve para recados ou falas urgentes – é pra ouvir a tua voz quando está longe, imaginando que, se perto, estaria falando ao pé do meu ouvido, exatamente como eu gosto.

Se você me percebesse, saberia que venero cafuné, carinho nas coxas e massagem nos pés – nas costas, vá lá, também não é nada mal. Notaria que o motivo de eu não fugir da chuva não é por molecagem, mas pela sensação singela de sentir cada gotinha me fazendo carinho pelo corpo. Olharia para mim como naquela semana santa, que te peguei com cara de bobo velando meu sono e me deu até um frio na barriga de tão bom que foi. Me beijaria como se fosse a primeira última vez, ou a última primeira, porque assim sempre valeria a pena.

Se assim tudo fosse, talvez não fosse sutil o que você me faz sentir – talvez, eu não precisasse sê-lo.

Sutilmente, a trupe se faz. Na segunda, um blogueiro indica um tema; na quinta, você confere o mesmo tema de perspectivas diferentes.

amanda oliveira . ana maria . andré pacheco . izabel pompermayer . lara marx . rafael glass . rodrigo casales . victor godoi

imagem daqui.


Apesar de não achar dos costumes mais saudáveis, eu adoro viver de passado. Adoro guardar, relembrar, reviver, ainda que em pensamento – só não gosto do cheirinho de mofo que, por vezes, dá.

Inspirada no querido Jean, decidi retomar textos antigos, que, há muito, já havia me esquecido da existência, mas que por motivos específicos ou não, gostei de reler (:

Esse foi originalmente publicado no antigo balbúrdia.

moinho

02 de outubro de 2005

Levadeira de moinho

“O vento leva”

Um castelo de cartas, uma casinha de dados, uma ilha de dominós – derruba. Nomes na areia, o sopro n´água, pegadas no chão – arrasta. Sonhos, agrados, doces desejos – leva. O vento leva para longe. Leva, e às vezes nos contempla com sua volta. A volta por vezes desejada, a volta às vezes não querida – destrói. Reduz a pedaços àquilo que se levou tempo para erguer, não se importa com o sofrer – porque, no final, o abraço mais provável é aquele que termina com as nossas mãos postas sob as costas.

Ele emaranha a blusa feita num fiar cauteloso, faz manchar a manga da camisa. Leva a paz e deixa o grito – e, se mais forte, chamamos de redemoinho. Redemói aquele olhar, aquelas palavras, aquele amor. Por ora, faz do silêncio o melhor remédio.

O vento é nosso amigo, em vezes… leva para junto de quem se quer, aproxima a lembrança distante, faz novear a bobice velha. Mas o moinho não; nunca. Ele se disfarça de brisa, arranca um sorriso das mentes taciturnas, faz atenuar a filáucia para dar lugar a novas novices. A gente se desarma, pensa que o vento mudou de direção, que o melhor veio – mas, sem dar de ombros, o redemoinho vem e vai, não deixa nada que se valha. E a gente, ingênua gente, coloca a culpa no vento; é, é muito mais fácil achar que as coisas acontecem de acordo com a sua direção, e que somos isentos de qualquer responsabilidade sobre.

A culpa é do moinho, minha gente, do redê – que, na vela do levar, rói, remói, redemói, e não deixa vestígio de pavio pra gente poder acender àquilo que o vento apagou.

Eu quis querer o que o tempo não leva, para que o vento só levasse o que eu não quero. Eu quis amar o que o tempo não muda, para que, quem eu amo, não mudasse nunca. (a.d.)

Sempre fora uma garota de porquês. Para ela, tudo tinha um motivo. Suas piores brigas, sem dúvida, se originaram com uma pergunta. Tudo precisava ser esclarecido, tinha que estar às claras – ela tinha que saber.

Por que você não ligou? Por que não me avisou que ia lá? Por que você não me contou que conseguiu? Por que você não me disse que não deu certo? Por que você está falando assim? Por que não me faz mais surpresas? Por que está me olhando diferente? Por que você não quer ir comigo? Por que você não me convidou para ir com você? Por que você me deixou lá? Por que você está fazendo isso? Por que você tem sempre que gritar? Por que você não me entende? Por que você não me vê? Por que você não me diz que me ama como antes? Por que você foi embora? Por que você bebeu demais? Por que você não me explicou antes? Por que você não voltou? Por que você tem que ser agora? Por que você não retornou a minha ligação? Por que você não ficou feliz? Por que você ficou feliz? Por que você não gostou do que eu preparei? Por que você está distante? Por que você não me dá atenção? Por que não pode ser agora? Por que você tem tempo para os seus amigos e não para mim? Por que esse mau humor? Por que essa raiva? Por que esse carinho todo de repente? Por que você está se cansando? Por que você não se cansa nunca? Por que você não se decide? Por que você não me inclui nos seus planos? Por que você não me deixa respirar? Por que você não está aqui comigo? Por quê?

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Eu dormi vendo TV. Que diferença faz? Eu estou mais retraído. Estou com raiva! Não seria surpresa se fosse constante. Não tem nada de diferente. Eu simplesmente não quero. Queria ficar sozinho um pouco. Estava com raiva. Não sei! A culpa é sua. Eu estou tentando. É claro que sim! Não dizer o tempo todo não quer dizer que eu não sinta. Me deu vontade. Eu gosto assim. Eu não quis. Ainda estava com raiva. Depois pode ser tarde. Eu não vi. Porque não. Porque sim. Mas eu gostei. Eu estou normal. Você tá muito carente. Não quero. É o seu jeito de ver as coisas. (!) (…) Não pode? Também queria saber. Não é verdade. Ainda não tive vontade. Eu tenho que fazer tudo com você? Senti sua falta. Estou ocupado. Por que diabos tudo tem que ter um motivo?

Não soube responder. Apagou a luz e voltou para cama.

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Luzes acesas: a trupe de quinta se apresenta. Na segunda, um blogueiro indica um tema; na quinta, você confere o mesmo tema de perspectivas diferentes. Apagam-se as luzes, a trupe se vai.

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– Do que você precisa?

– Eu preciso de um cara que me olhe e me veja. Que ache outras mulheres bonitas, mas olhe diferente só pra mim. Que vibre pelas minhas conquistas, que torça por elas e que me console quando eu estiver triste. Que transe comigo porque não vai aguentar de vontade se não o fizer. E que me faça carinho sem que eu precise pedir. E que me note nos dias mais estranhos. Que me faça feliz. Que me ame. É disso que eu preciso.


08ef122e05e7d84f549d5747707fd7f5377c34b3_mSe olhou.

O espelho veio num pacotinho bonito, que lembrava um saco de pipoca elitizado. De longe, jogou o pacote ao chão, ouvindo o tilintar dos caquinhos que se batiam uns com os outros com um certo prazer. Vagarosamente, abriu o embrulho enquanto ligava a TV. Como um doce bom, mastigou cada pedacinho do espelho e olhava relapsa as imagens das tragédias daquele dia. Cada caco que ingeria, perfurava suas entranhas e fazia brotar em sua face uma expressão de alívio. Já não se importava com a dor de estômago, a prisão de ventre ou a enxaqueca exaustiva. Cortava os dedos quando pegava os cacos e dilacerava a garganta quando engolia, mas não era nada se comparado à dor de ser deixado sozinha.

Se olhou novamente. Cuspiu a pasta de dente, enxaguou a boca e se virou sem olhar pra trás – o espelho já não tinha nada para lhe dizer.

Mais uma sexta de quinta – trupe de quinta! Na segunda, um blogueiro indica um tema; na quinta, você confere o mesmo tema de perspectivas diferentes. O que a trupe vê através do espelho?

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papelnocaminhoBateu a porta e sequer teve coragem de olhar de novo, para conferir se estava bem fechada. Andou sem rumo, sem vontade, sem porquê. Por onde passava, deixava pedacinhos de papel para que ele pudesse segui-la, se fosse de sua vontade. Na lanchonete, comprou aquele doce pequeno que ele gostava, que Dona Dodó sabia fazer fazer como ninguém, por puro medo de que, na sua caminhada, não encontrasse outro parecido. Lá, deixou um pedaço de papel do tamanho do doce, com um restinho do creme na ponta, tirado do canto da boca.

Passou pela cafeteria em que se conheceram e lembrou sorrindo que ela nem gostava de café. Resolveu deixar um pedaço de papel maior, porque a importância da lembrança também o era. Olhou para o mirante, os olhos quase apertados contra o sol, e fez voar um origami que deveria se parecer com um passarinho – nunca fora boa com formas, principalmente de papel. Sentou de bandinha no banco da praça que tantas vezes presenciou as suas piores brigas – lá não deixou nada, não queria mais se lembrar. Como se fossem feitos de pedra, os pedacinhos de papel não voavam. Não sabia se era a sua força de vontade ou tamanho dos pedaços, mas permaneciam ali, no caminho traçado.

Chegou à rodoviária, com os olhos mareados. Deixou o bloquinho naquele canto no qual tantas vezes se despediram. Não eram mais necessários os papéis porque, se chegado ali, ele saberia para onde ela teria ido. Embarcou sem chorar. O caminho era longo mas, pela primeira vez, sentia que estava indo sem deixar nada para trás.

No bloquinho, em resumo, tudo o que queria ter dito: cansei de fazer papel de boba; não volto mais.

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A trupe é de quinta, mas eu, que já comecei bem, e só dei as caras na sexta. Na segunda, um blogueiro indica um tema; na quinta, você confere o mesmo tema de perspectivas diferentes. Conheça os caminhões de papel da trupe!

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